sexta-feira, 23 de agosto de 2024

Alagoas perde Sete Estrelas, grande representante das emboladas e do Guerreiro de nosso Estado

 


Aos 68 anos de idade, faleceu na manhã desta sexta, 23 de agosto, Antônio Luis Bispo, mais conhecido na cultura popular como Sete Estrelas, embolador de coco e personagem Mateu, do Guerreiro.




Natural de Arapiraca, Sete Estrelas percorreu o Estado de Alagoas em suas apresentações, seja como embolador de coco ou com os grupos de Guerreiro de que participava. "Nas brincadeiras do folclore sempre fui conhecido por Sete Estrelas e amo o que faço".

O último grupo que ele participou foi o Guerreiro Campeão do Trenado, de Mestra Iraci.

Keyler Simões 

terça-feira, 20 de agosto de 2024

Secult e Asfopal realizam apresentações em comemoração pelo Mês do Folclore

 


A Secretaria de Estado da Cultura e Economia Criativa (Secult), em parceria com a Associação dos Folguedos Populares de Alagoas (Asfopal), promove o projeto Cultura Viva, que levará uma programação especial ao Mercado das Artes 31, no bairro de Jaraguá, e no Pátio Shopping, em Maceió.







O evento, que vai ser realizado de 20 a 24 de agosto, contará com apresentações de diversos grupos folclóricos alagoanos. As atividades fazem parte da Semana do Folclore, em celebração ao Dia do Folclore, comemorado em 22 de agosto, com o objetivo de fomentar a cultura popular e proporcionar ao público uma imersão nas tradições que moldaram a história e a identidade de Alagoas.

A secretária de Estado da Cultura e Economia Criativa, Mellina Freitas, destacou a importância de iniciativas como essa para a preservação e valorização das tradições populares. “O folclore alagoano é uma expressão viva da nossa identidade. Estamos felizes em apoiar e dar visibilidade aos grupos que fazem parte da nossa cultura”.

Os grupos folclóricos que se apresentarão durante a Semana do Folclore são reconhecidos pela dedicação em preservar e transmitir as tradições culturais de Alagoas. Entre os destaques estão o Pastoril Coração Alagoano (ex-Bailado dos Insetos), a Mestra do Patrimônio Vivo Zeza do Coco, o Guerreiro São Pedro Alagoano, as Baianas da Mocidade, as Baianas Flor do Bairro, o Coco de Roda São Marcos, Guerreiro Raio de Sol, Guerreiro Campeão do Trenado, Baianas Mensageiras de Santa Luzia e o Coco de Roda Ganga Zumba.

Confira a programação completa:

20 DE AGOSTO

Mercado 31(Jaraguá)

18H - PASTORIL CORAÇÃO ALAGOANO (antigo BAILADO DOS INSETOS)

 

Pátio Shopping (Benedito Bentes)

16:30h - Pastoril Estrela de Belém 

18:30h - Baianas Mensageiras de Santa Luzia 


21 DE AGOSTO

Mercado 31(Jaraguá)

18H - MESTRA ZEZA DO COCO


Pátio Shopping (Benedito Bentes)

18:30h- Guerreiro Campeão do Trenado 


22 DE AGOSTO

Mercado 31(Jaraguá)

17H30 - GUERREIRO SÃO PEDRO ALAGOANO

18H30 - BAIANAS DA MOCIDADE - MESTRA EDLEUSA


Pátio Shopping (Benedito Bentes)

16:30 - Dona Clara e seu Amanhecer (trio de forró e boneca)

18:30h - Fandango do Pontal da Barra 


23 DE AGOSTO

Mercado 31(Jaraguá)

18H - BAIANA FLOR DO BAIRRO/COCO DE RODA D. MARCOS

Pátio Shopping (Benedito Bentes)

18:30h - Guerreiro Raio de Sol 

 

24 DE AGOSTO

Mercado 31(Jaraguá)

COCO-DE-RODA GANGA ZUMBA


Ascom Secult e Asfopal

quarta-feira, 14 de agosto de 2024

Culturas Tradicionais e Populares: tipicidade é incluída no Sistema da Lei Rouanet



O Ministério da Cultura (MinC) incluiu a categoria Culturas Populares e Tradicionais na plataforma de cadastro e acompanhamento dos projetos culturais financiados com recursos da Lei Rouanet, o Sistema de Apoio às Leis de Incentivo à Cultura (Salic). Na prática, os proponentes dessas manifestações culturais poderão cadastrar suas ações com maior precisão e identificar seu lugar em uma das principais ferramentas de fomento à cultura do Brasil.




Desde 2023, a ministra da Cultura, Margareth Menezes tem promovido ações para ampliar o alcance da Rouanet. Uma das alterações foi a inclusão, no ano passado, de novas tipicidades que sejam mais conectadas com a realidade da produção cultural brasileira. Uma das categorias criadas foi a de Povos e Comunidades Tradicionais, que agora passa a se chamar Culturas Populares e Tradicionais, um conceito mais amplo e inclusivo. Essas iniciativas abrangem diversas comunidades, como indígenas, quilombolas, povos de terreiros, ciganos, caiçaras, castanheiras e ribeirinhos.





A mudança foi resultado de uma articulação entre a Secretaria de Cidadania e Diversidade Cultural (SCDC) e a Secretaria de Economia Criativa e Fomento Cultural (Sefic), ambas do Ministério da Cultura. "A inclusão dessa categoria significa o reconhecimento da importância cultural desses segmentos, contribui para o mapeamento dos grupos e principalmente para garantir a promoção dessas manifestações tão essenciais para a nossa identidade e diversidade cultural”, explica Márcia Rollemberg, secretária de Cidadania e Diversidade Cultural do MinC.


O secretário da Sefic, Henilton Menezes, destaca que, desde a inclusão do tema no Salic, no ano passado, já foram cadastrados 80 projetos nessa categoria, somando R$ 37,6 milhões (R$ 37.613.181,08) a serem captados. “Estamos constantemente implementando avanços no nosso sistema com objetivo de adequá-lo às dinâmicas da produção cultural brasileira, em toda sua diversidade”, aponta Henilton. “As alterações nos permitirão enxergar, com mais precisão, as formas que as demandas são apresentadas ao Ministério, o que promoverá uma maior possibilidade de atendimento".


A alteração no nome permitirá ao MinC mapear todas as iniciativas de culturas populares e tradicionais registradas no Salic. As informações coletadas também serão utilizadas para a implementação da Política Nacional das Culturas Tradicionais e Populares. “Mestras, mestres, grupos, coletivos, instituições culturais, festividades das culturas tradicionais e populares de todo Brasil já podem se ver como parte da política pública de cultura. Essas mudanças são importantes para trazer maior visibilidade e compreensão da diversidade e riqueza das culturas tradicionais e populares presentes em nosso país”, avaliou Tião Soares, diretor de Culturas Populares e Tradicionais do MinC.


Tipologias


Dentro da tipicidade Culturas Populares e Tradicionais, estão incluídas as seguintes tipologias: Andirobeiras; Apanhadores de Sempre-Vivas; Caatingueiros; Caiçaras; Castanheiras; Catadores de Mangaba; Ciganos; Cipozeiros; Extrativistas; Faxinalenses; Fundo e Fecho de Pasto; Geraizeiros; Ilhéus; Indígenas; Isqueiros; Morroquianos; Pantaneiros; Pescadores Artesanais; Piaçaveiros; Pomeranos; Povos de Terreiro; Quebradeiras de Coco Babaçu; Quilombolas; Retireiros; Seringueiros; Vazanteiros; e Veredeiros.


Henilton Menezes lembra que a lista poderá ser alterada para incluir outros segmentos que ainda não se sintam contemplados nessas definições. "O objetivo é que a Lei Rouanet represente toda a população brasileira, de todas as regiões e origens, por isso estamos em constante escuta da sociedade", acrescenta.


Definição


As Culturas Populares e Tradicionais englobam o conjunto de criações, expressas por um indivíduo ou grupos, que têm como referência as tradições, a preservação do legado cultural e o reconhecimento da identidade cultural e social das comunidades. Elas podem se utilizar de variadas linguagens artísticas, como o teatro, a música, a dança e as artes plásticas.


Entre as manifestações que têm origens nas tradições culturais estão, por exemplo, Folias de Reis, Congadas, Moçambiques, Fandango, Frevo, Afoxé, Maracatu, Capoeira, Jongo, Lambada, Xaxado, Catira, Ciranda, Maculelê, Forró, Cavalhada, Quadrilhas Juninas, Artesanato e Pinturas Corporais Indígenas. "Essas tradições são fundamentais para a cultura brasileira e merecem proteção e valorização", reforça Márcia Rollemberg.


MinC

terça-feira, 13 de agosto de 2024

Ranilson França - 18 anos de saudades do fundador da ASFOPAL



Nesta quarta, 14 de agosto, completamos 18 anos de saudades, pois nesta data, em 2006, Alagoas perdia um de seus mais queridos e respeitados cidadãos, mas não um cidadão comum, um que extrapolou sua própria existência e suas obrigações de simples alagoano de Chã do Pilar. Ranilson era um apaixonado, um curioso fervoroso.


Gente simples e gente boa. Gente como tantos outros, mas com um coração que pulsava como um trupé de Guerreiro ou de coco, que sempre motivava e conquistava cada vez mais admiradores da cultura popular.


Um de seus maiores méritos, foi ter “dado nome” aos mestres e dançadores, pois ao invés de se referir às pessoas que participavam das danças, folguedos e demais brincantes como “o mateu”, o dançador”, “o mestre”, ele valorizava o ser humano por baixo das indumentárias, a partir daí, por exemplo, “o mateu” do Guerreiro de Joana Gajuru, ficou conhecido por Mestre Verdelinho, outro saudoso defensor e difusor de nossa cultura popular, que se postava como mais um “soldado” ombro-a-ombro com Ranilson , na luta pelas tradições populares.



Ranilson pôs na cabeça em 1997 que o extinto Fandando do Pontal da Barra teria que ser rescuperado, e como na época exercia o cargo de Secretário Estadual de Cultura, apesar de não contar com verba alguma, articulou junto à Universidade Federal de Alagoas, através de sua Pró-reitoria de Extensão (PROEX), a retomada dos ensaios do Fandango, convencendo Mestre Isaldino da Costa da importância e viabilidade desse retorno, pois era Isaldino da Costa, então, o último detentor das embaixadas e letras do folguedo, após anos de inatividade.


E foi graças a essa ação, que tive a oportunidade de conhecê-lo e à riqueza cultural de nosso estado, pois como estudante de jornalismo, estagiava na PROEX, na Assessoria de Comunicação e junto como meu amigo Marcos Rodrigues (Tchôla), íamos duas vezes por semana à sede da Colônia de Pescadores do Pontal para registrarmos em áudio e em vídeo todos os ensaios do Fandango, vendo a dificuldade encontrada em se tentar restabelecer um grupo, com pessoas, neste caso, pescadores, brutos, que não estavam acostumados a dançar e cantar, mas Ranilson ia lá estimulava, conversava, levava outras pessoas como estudantes universitários, para presenciar aquele fato.


Como não poderia deixar de ser, tudo deu certo e o Fandango se reergueu e, mesmo após a morte de Isaldino, o grupo se mantém forte, sendo o único do gênero em Alagoas. Ali começava minha paixão pela arte popular, coincidindo com o movimento Mangue Beat, de Pernambuco, e devo a Ranilson essa oportunidade.


Ranilson era um pesquisador que não se comportava como tal, não havendo distanciamento, muitas vezes recomendado pela Academia, entre ele e seus alvos, muito pelo contrário, Ranilson se misturava de tal forma que os mestres o viam como um igual.


Ranilson criou a Associação dos Folguedos Populares de Alagoas (ASFOPAL) em 27 dezembro de 1985, após ser procurado pelos mestres Juvêncio Joaquim, da Chegança Cruzador São Paulo, de Rio Largo, Jorge Ferreira, do Guerreiro da Ponta Grossa, e Paulo Olegário, do Guerreiro do Tabuleiro, que queriam “levantar a cultura” que estava tão esquecida. Dois anos depois Ranilson criou e pôs no ar pela Rádio Educativa FM, o programa Balançando o Ganzá, que, anos depois, também ganhou a telinha da TV Educativa.


Ranilson França era funcionário da Secretaria Estadual de Educação e um dos mais respeitados pesquisadores da cultura popular alagoana e discípulo de Théo Brandão, além de ter sido professor universitário e presidente da Comissão Alagoana de Folclore.


Uma vida dedicada à cultura popular, respeitado por seu trabalho, mesmo quando diziam: “O Ranilson e seus velhinhos desdentados”, expressão jocosa que só o motivava cada vez mais a melhorar a vida dos mestres.


Para alguns, Ranilson era teimoso, mas não se tem idealismo sem teimosia, e era o idealismo de Ranilson que o mantinha vivo e até mais do que isso, foi esse idealismo que o eternizou na história de Alagoas, mesmo após seu falecimento prematuro, em 14 de agosto de 2006, um dos dias mais tristes e cheios de incertezas dos últimos tempos, pois todos se perguntavam: “E agora, o que será dos mestres e da ASFOPAL sem ele?”. A resposta veio 15 dias depois, quando Mestre Joaquim Juvêncio, Presidente de Honra da ASFOPAL, em reunião assumiu a presidência, naquele 30 de agosto de 2006, e disse: “O professor Ranilson nos deixou órfãos. Agora, mais do que nunca, temos que trabalhar em união. Num trabalho em conjunto com todos os associados, sempre com o mesmo objetivo”, e em seguida Juvêncio passou o bastão para Josefina Novaes, para depois ter sido eleita formalmente, e honrado seu mandato, liderando a associação até o ano de 2011.

Em 2012, por força do destino, assumi a Presidência da ASFOPAL, com a missão e responsabilidade de dar seguimento ao trabalho daqueles 27 anos de história, com um compromisso: honrar a missão que me deram e à memória de Ranilson França, o Santo Guerreiro de Alagoas, como tão bem definiu Pedro da Rocha em seu documentário sobre Ranilson, por força de compromissos profissionais, tive que deixar a Presidência no fim de 2012, mas continuo na Asfopal, hoje, em 2024, como parte da Diretoria que tem Ivan Barsand como Presidente.

A saudade, a lição e, principalmente, o legado permanecem inalterados.


Keyler Simões 

Texto publicado originalmente em 2012 e atualizado agora em 2024.