No último dia 19, foi apresentado o show “30 anos da Asfopal”, no projeto Teatro Deodoro é o Maior Barato e uma semana depois, 26, foi publicada uma “crítica”, ou algo parecido, no jornal Gazeta de Alagoas, digo algo parecido, pois o tom de desmerecimento ao que foi mostrado, a aproxima mais do recalque e acúmulo de ignorância sobre o tema tratado, do que uma crítica, e quando falo de ignorância é no sentido mais claro da palavra, que é falta de conhecimento, tão perturbadora ainda mais para quem se propõe escrever ou comentar sobre um assunto, e por assinar o seu escrito como Jornalista.
O escrevinhador, em questão, meu amigo e de quem sou admirador, como ele mesmo se colocou, foi deselegante em vários momentos, já iniciando seu texto dizendo: “O público era diminuto até o terceiro toque da chamada para o início do espetáculo. De repente, não mais que de repente, uma profusão de jovens adolescentes ocupou todas as poltronas da plateia e alguns camarotes”, além do próprio título do referido texto: "Foi sem ter sido". Ora, colocamos no teatro mais de 240 pessoas naquela noite, muito mais do que, infelizmente, nomes de “peso” da nossa cultura, mais especificamente, da nossa música, consegue levar.
O recalque chegou ao ponto de dizer que ele não viu ali um show ou espetáculo, pois não teria havido um “tratamento cênico” aos mestres e brincantes. O que ele queria? Um mestre ou mestra dependurados em cordas flutuando no palco? Mas a falta de entendimento do que seja a proposta do espetáculo deve fazer isso? Mas com certeza comemoraríamos os 30 anos da Asfopal (Associação dos Folguedos Populares de Alagoas) com mestres, mestras e brincantes saltitando em pontas de pés, como um belo balé clássico ou com um tambozeiro, pifeiro ou sanfoneiro realizando solos, com seus instrumentos, capazes de arrancar aplausos enlouquecidos. Será que teríamos que travesti a cultura popular para estarmos no Teatro? Tudo isso para agradar a pessoas que nem de longe se movem em prol da cultura popular? Parece que o colega, esqueceu que o show era de cultura popular, e não mais um show parafolclórico, que tantos estão acostumados a ver naquele palco e em tantos outros.
Tentamos levar ao palco uma amostra atual do que temos hoje na Asfopal. Houve sim problemas com os músicos, que fizeram com que os grupos ficassem impossibilitados de brilhar mais. Foi uma infelicidade, mas a essência da cultura popular estava ali presente, sem se humilhar ou ameaçar os poderes públicos em busca de espaços. Estavam lá por merecimento, pois a verdadeira arte vem do povo. O teatro é do povo, mesmo que pseudo-artistas de classe média não a reconheçam assim e virem o nariz quando essas pessoas ocupam espaços como o Teatro Deodoro, sem protecionismos ou favorecimentos. A cultura popular tem que recuperar seu espaço nas artes e, se o brilho, a energia, a arte e talento desses mestres e brincantes, quando apresentados no palco, não pode ser chamado de show ou espetáculo, temos que rever esse conceito. O preconceito com a cultura popular aparece sempre que eventos assim acontecem. Nestas horas é que as frustrações egocêntricas de quem quer que seja, afloram. Que os capuzes do preconceito e da ignorância caiam, pois, sabe porquê um chapéu de Guerreiro tem tantos espelhos? Não é só pelo brilho e beleza, não. É, segundo a cultura popular, uma proteção contra o mau-olhado, a inveja. Simbólico e apropriado para o evento, não?
Ah, e se até hoje, como levantou o colega escrevinhador, a Asfopal não tem como Presidente, um mestre da cultura popular, foi porque até agora nenhum deles se interessou ou conseguiu conquistar os próprios colegas para tal, e como exemplo mostro o que aconteceu recentemente. Com a minha saída da presidência da Asfopal, em julho passado, em assembleia, indiquei o nome de Cícero Abdias, mais conhecido como Cicinho, do Guerreiro Campeão do Trenado, mestre e filho de mestre de Guerreiro, e como vice, o mestre André Joaquim, mas de uma reunião para outra (elas são quinzenais), o próprio Cicinho, pediu para o colega radialista, também membro da Asfopal Marcos Lima, se lançasse como presidente e ele, Cicinho ficaria como vice, e foi o que foi feito, por iniciativa dos próprios mestres.
Comemoramos sim, 30 anos da Asfopal, que incomoda, pois uma associação com tantos anos e associados, persiste, ao contrário de outras entidades semelhantes sem a mesma longevidade e reconhecimento, por causa de mesquinharias, inveja, desvios de conduta, se acabam, sem sequer deixar saudades.
Não sou defensor, ou representante-mor de ninguém, mas graças a minha educação em casa, minha história, a Ranílson França, Mestre Verdelinho, Mestra Hilda, ao Mestre Isaldino (Fandango do Pontal), Mestre Venâncio, Nelson da Rabeca, Geraldo José, Chau do Pife, Mestre Juvenal Leonardo, Mestre Juvenal Domingos, Mestre Juvenal Juvêncio, Mestre Venâncio, Mestre Olvídio, Josefina Novaes, Sônia Lucena, Mestre Cicinho Abdias, Mestre André, Mestra Maura Góes, Mestra Dolores, Flávio Santos e tantos outros brincantes, mestres, mestras e defensores de fato, da cultura popular de Alagoas, que hoje são a minha família, também, não poderia me calar diante de tantos impropérios.
Falem sempre da Asfopal e da cultura popular, mas não esperem que nos calem, pois hoje o perfil de "coitadinhos" mudou bastante e a fé que nos move continua inabalável, pois: Guerreiro, cheguei agora, Nossa Senhora é nossa defesa!!!
Ah, e nos 30 anos, em dezembro, não teremos só arroz doce, bolacha brasileira, caldo de cana, não. Teremos bolo, salgadinhos, refrigerantes, cerveja e até espumante, pois quem gosta de miséria, não são os humildes não, e estão todos convidados.
Keyler Simões
Jornalista, Produtor Cultural,
Ex-presidente da Asfopal e Produtor do referido espetáculo
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