segunda-feira, 23 de janeiro de 2023

Ivan Barsand assumiu a Presidência da associação em 22 de agosto

Em 22 de agosto de 2022, Dia do Folclore, a nova diretoria tomou posse, com o pesquisador Ivan Barsand como Presidente, e contou com a presença de várias personalidades, mestres e imprensa. Ocorreu na Sala de Música do Complexo Teatro Deodoro, em Maceió. 






















Fotos: Keyler Simões 





 

O último trupé de Mestra Hilda (Recordando)

 

*Texto publicado originalmente em 31 de agosto de 2010, no blog Arte Com Comunicação


Coco alagoano perde uma de suas maiores representantes


 

A cultura popular de Alagoas sofreu mais um baque nesta manhã (31/08/ 2010), com a morte de Hilda Maria da Silva, a Mestra Hilda, a dama do Coco de Alagoas, uma das mais carismáticas e queridas mestras populares e uma das últimas detentoras do saber do coco de Alagoas, também chamado de Pagode.

Fibra é a palavra que define os fortes. Perseverança, define os destemidos. Coragem, é a palavra que define os heróis. Dona Hilda é sinônimo de todas elas. Com 89 anos de idade, completados em 1º de julho último, Mestra Hilda era uma das maiores figuras do nosso folclore e nossa cultura em geral.

 


 Faleceu na manhã desta terça, por ironia, 

ainda no mês do folclore... sua vida.

 

Nascida e criada em Rio Largo, bem próximo à Maceió, essa senhora trabalhou muito em diversas tecelagens de Maceió para sobreviver. Vinda de família muito humilde, recebeu dos pais a influência de dançar o Pagode. Sempre que havia uma reunião de amigos, lá estava Hilda dançando e cantando o nosso pagode, mais conhecido por Coco. O que começou como uma brincadeira de criança, transformou-se em uma das mais autênticas representações do povo alagoano.

Naquela época nem se falava em manter vivas as nossas tradições. Dançava-se por puro prazer. Como o prazer que Dona Hilda ainda tem ao subir num palco e apresentar-se para um público, como ela própria diz: “Gosto de me apresentar... de ver aquele povo todo me aplaudir... Eu fico, que é uma coisa.! Se eu tiver com alguma dor ruim... melhoro rapidinho. É como uma coisa que sai do coração, que me deixa tremendo toda de felicidade...”.

Hilda da Silva, completou neste ano 46 anos de cantoria à frente de grupos de pagode e de Baianas. “Fui criada assim. Sempre que tinha uma festa, eu ia com os meus pais ou com meus amigos”, lembra Dona Hilda. Foi assim, não ao acaso, que ela conheceu e se apaixonou pelo seu marido, aos 25 anos de idade. Foram mais de 50 anos de casamento, quando em 1999 ele faleceu. Tristeza só superada pela dedicação e o prazer com seus grupos.

 


“Tem paciência morena, que eu mesmo serei teu bem....”

Quando perguntada sobre o que gosta mais, entre o Pagode e as Baianas, Dona Hilda não demorava a responder: “Gosto mais do Pagode porque é mais quente, tem um fogo... que eu gosto muito, que faz um bem danado”. Seu grupo de Pagode é, sem dúvida, o mais conhecido e o que leva no nome a força dessa senhora: Pagode Comigo Ninguém Pode, a quem ela se dedicava de corpo e alma, pois a danada não só canta e compõe, como também compra e enfeita as roupas dos “dançadores”, são 13 pessoas no total e mais 3 para entrar. Ela dizia: “Eu compro as roupas dos homens e das mulheres, que elas mesmas é que costuram”. E não fica só por aí, não. Além disso, é ela quem lava as roupas, após cada apresentação, e guarda em casa. “Quando tem uma apresentação, o pessoal passa lá em casa pra pegar as roupas, e quando acaba tem que deixar lá. Eu lavo depois com muito cuidado pra não estragar, porque senão as roupas vão se acabando muito rápido e fica feio se apresentar tudo desbotado ou rasgado. Comigo não tem isso, não... tenho dois armários: um pro Pagode e outro pra Baianas”, explicou.

Esse cuidado não era à toa. Ela comprava as roupas dos grupos com o dinheiro que recebe da aposentadoria e da pensão deixada pelo marido. Além disso, fazia questão que todo mundo se apresentasse “cheirosinho” e bem arrumado, como ela própria faz questão de estar. Até meninas que viviam nas ruas Dona Hilda trouxe para dançar nos seus grupos e que se mantém lá. “Só não faço mais, porque parece que a nossa cultura tá se acabando, tá querendo cair, porque não dão valor. Tem muito ‘dançador’ que não quer mais se apresentar, porque o que pagam a gente, além de muito pouco, as pessoas demoram para pagar...”

Na época perguntamos à Mestra Hilda quem seriam seus aprendizes, e ela responde: “As minhas filhas, que dançam mais a Baiana, mas sabem tudo do Pagode, e a minha nora, Duarte, que canta comigo”.

 Como todos os grandes mestres dos folguedos alagoanos, Dona Hilda conviveu muito com o falecido professor Pedro Teixeira: “Pedro Teixeira foi quem me apoiou e quem me dizia: ‘Dona Hilda a senhora é maravilhosa porque a senhora sabe o que está fazendo’. Pois o meu Pagode é autêntico, sem misturar com outras coisas. Ele me apresentava nos locais... Pedro Teixeira foi a maior pessoa que me considerou”.

Dona Hilda era assim: simples, durona, exigente, responsável, e acima de tudo, uma figura simpática que representava uma grande parcela da nossa cultura... “Sei guerreiro... chegança... já dancei tudo isso., mas a memória não me ajuda mais”, e modesta, tanto é que quando perguntada sobre seu maior sonho ela respondeu: “Meu maior sonho é o meu Pagode. Essa é a minha ‘brincadeira’... é tudo para mim... é o que me deixa feliz”.

Dona Hilda Maria da Silva, tinha 89 anos de idade. Deixou 8 filhos (4 homens e 4 mulheres), mais de 30 netos, 16 bisnetos e 8 tataranetos. Seu filho mais velho é Natanael, de 72 anos. Da família, participavam do grupo Pagode Comigo Ninguém Pode: 03 filhas, 01 sobrinha e 05 netos.

"Segundo Josefina Novaes, Presidente da Associação dos Folguedos Populares de Alagoas (ASFOPAL): "Dona Hilda era muito querida e é uma das maiores perdas da cultura popular de Alagoas, sem dúvida alguma".

Para Jurandir Bozo, músico, que hoje lidera o recém-fundado Clube do Coco, em Alagoas:"A energia que ela tinha era invejável... a cultura popular corria nas veias de Mestra Hilda... estamos tristes pois era uma grande referência".

Mestra Hilda estava com sérios problemas de saúde e fez sua última apresentação pública com seu grupo, num evento há um pouco mais de um mês no bairro de Jaraguá.

No início deste mês de agosto Dona Hilda recebeu a notícia que havia sido premiada numa nova lista de selecionados pelo Ministério da Cultura com o PRÊMIO CULTURAS POPULARES 2009 - EDIÇÃO MESTRA DONA IZABEL – ARTESÃ CERAMISTA DO VALE DO JEQUITINHONHA.

Bem como o Mestre Verdelinho (falecido em março deste ano) Dona Hilda era um dos maiores nomes do coco alagoano, também conhecido por Pagode.

O Coco está de luto, mas Alagoas deve muito a ela e só temos a agradecer por sua dedicação à cultura alagoana.


Keyler Simões


Josefina Novaes e quase 40 anos dedicados à cultura popular

 


Nosso destaque nesta edição é uma mulher forte, a quem pessoalmente, tenho muito carinho e respeito. Uma pessoa comprometida com nossa cultura popular, e que herdou um fardo intenso do Professor, folclorista, fundador da Associação dos Folguedos de Alagoas - ASFOPAL, Ranílson França: Josefina Novaes.

Josefina Maria Medeiros Novaes, formada em Licenciatura em Geografia/ UFAL. Mãe de três rapazes: Luiz, Leonardo, Leopoldo e avó de quatro meninas: Catarina, Lorena, Morena, Helena. 

Há 37 anos começou sua história com a cultura popular de Alagoas, quando em 1986, no mês de julho, foi trabalhar (emprestada pelo SERVEAL, seu órgão de origem) na Secretaria Estadual de Cultura, sendo designada (para sorte dela, como ela gosta de frisar) para a Coordenadoria de Ação Cultural, tendo o Prof. Ranilson, na ocasião,  na Diretoria de Assuntos Culturais e posteriormente assumindo a Coordenadoria.





‘Lá (Secretaria de Cultura) tive o prazer de conhecer a recém criada Associação dos Folguedos Populares de Alagoas/ ASFOPAL (dezembro/1985) que se reunia semanalmente, às quartas- feiras, na sala da Coordenação. Pela ausência da secretária da associação fui convidada para redigir a ata e, de imediato fiquei encantada com a proposta da Associação, com o saber dos mestres (as) dos Folguedos e danças e com a forma respeitosa que o Prof. Ranilson tratava cada um deles, contagiando a todos que ali trabalhavam com a sua paixão pelo folclore, formando assim uma equipe coesa, trabalhando unida e cheia de entusiasmo, durante 18 anos. Faço parte da ASFOPAL há 37 anos, dos quais 26 anos de dedicação integral’.





Você sempre foi tida como braço direito de Ranilson França, tanto que foi a primeira Presidente da Asfopal depois da partida de Ranílson? Como foi esse momento?

Dar continuidade ao legado deixado pelo Ranilson, durante seus anos, foi quase uma obrigação, uma forma de homenagear o seu trabalho e a sua memória, um ato de respeito aos mestres (as), no momento se sentindo órfãos, e aos seus saberes. Seus amigos mais próximos uniram-se  nessa árdua missão tentando amenizar a falta de sua presença física, seguindo seus ensinamentos. Não podemos deixar de destacar os nomes de Gustavo Quintella, Mestre Juvêncio Joaquim, Ivan Barsand, Carmem Lucia Omena, Victória Barbosa, sem o apoio  deles não teria sido possível caminharmos. A todos os mestres ( as) e demais associados, toda a nossa gratidão pela confiança em nós depositadas e a compreensão pelas nossas falhas. A ASFOPAL foi, aos poucos, tornando-se referência no campo da Cultura Popular, em especial, firmando Convênios, realizando e dando continuidade a projetos exitosos, Congressos, Simpósios, debates, conquistando uma voz (cadeira) no Conselho Estadual de Cultura, firmando o propósito da sua criação.

‘Muitas mudanças inevitáveis  aconteceram nesses 37 anos de existência da ASFOPAL, novos presidentes tomaram posse, cada qual com a sua forma de trabalho,  o aparecimento de novas políticas públicas culturais com várias exigências, nem sempre viáveis aos detentores dos saberes populares, novas influências, modismo, aconteceram ao longo de sua trajetória, mas a ASFOPAL segue firme e confiante, forte na defesa dos seus associados. Aos mestres (as) da Cultura Popular de Alagoas, verdadeiros guardiões dessa rica Cultura, todo o nosso respeito, gratidão e admiração por conseguirem, a duras penas, manter vivo os nossos costumes e tradições, em especial os  mestres Juvêncio Joaquim, Manoel Venâncio de Amorim, Verdelinho, Maria do Carmo Barbosa, Augusta Maria da Conceição, Maria Vitória, Maria Flor, Jaime Oliveira, Virgínia Morais, Juvenal Domingos, Juvenal Leonardo.... 

Infelizmente, se um projeto emergencial de preservação  não for considerado, a Identidade Cultural dia Estado de Alagoas está seriamente ameaçada, nossos Folguedos e danças estão desaparecendo ou perdendo a sua essência, suas singulares raízes. Digo, com propriedade, que isso está acontecendo com muita rapidez , com a anuência e ausência dos órgãos competentes . Vamos agir enquanto è tempo , se ainda tivermos tempo.’


Publicada originalmente no Guia Ensaio, em setembro de 2022

Banda de Pífanos Esquenta Muié - Rejuvenescida aos 44 anos

 



Para quem é de Alagoas, ao ouvir o nome da Banda de Pifanos Esquenta Muié,  de Marechal Deodoro, lembra-se logo do maestro José Cícero com toda a sua irreverência e virtuose no instrumento. Mas "Zé Cícero" nos deixou em junho de 2020 acometido pelos males causados pela diabetes.



Deixando a tristeza de lado, o que o maestro sempre quis foi que a banda não se acabasse. Fundada em 1978, a banda de pífanos Esquenta Muié sempre foi uma referência na música e na cultura popular alagoana, pena que não temos a participação dela em trabalhos de outros talentos, mas o carinho por ela permaneceu, e ao visto permanecerá ainda por um bom tempo, pois a semente plantada deu frutos.

Luciel Santos, um dos filhos de José Cícero, um ano mais novo que a própria banda aceitou a responsabilidade de manter a tradição da família e antes mesmo da despedida de seu pai, já estava assumindo a liderança da banda para felicidade e orgulho dele.

Graças a esse carinho e respeito, a banda de pífanos Esquenta Muié continua "esquentando" os eventos e nossos corações, agora com nova formação... quer dizer quase nova, pois alguns músicos são remanescentes da antiga formação, mesclando-se aos novos componentes. 

O sobrinho, Frank Luciano, mais conhecido por Pingo, zabumbeiro e José Edmilson, na caixa, são antigos membros da banda. A eles se juntaram o primo Wanderlan Luciano, nos pratos e Valdijan, no triângulo.

Segundo Zé Cícero, a banda Esquenta Muié: “É um dos culturais de Alagoas”, e graças ao compromisso da família e amigos seguirá.

Por isso, conversamos com o filho do saudoso José Cícero, e atual maestro da banda, Luciel Santos.

- A banda Esquenta Muié é uma referência em Alagoas. Como se deu a passagem do seu pai, Zé Cícero, uma figura rara e talentoso, para você?

Tive o prazer de acompanhar meu saudoso pai em diversos eventos culturais, pelo grande trabalho e amor a cultura.

- Quando você assumiu a banda? Seu pai chegou a ver você no comando?

Há cinco anos que venho no comando da banda pelo motivo da saúde do meu pai, por ele ficar sem possibilidade de fazer os eventos . OBS: sim, ele ficava muito emocionado por eu está dando continuidade o seu trabalho que tanto amava.

- Quais as maiores dificuldades em manter a banda hoje em dia?

A maior dificuldade é que temos dois musicos desempregados.   Mas com tudo isso recebemos uma ajuda de custos da prefeitura para manter nossa cultura viva.

- O atual uniforme é de cor diferente da fase com seu pai. Foi uma opção sua ou já veio dele essa mudança?

Foi uma opção minha, com apoio do meu pai.

- Quais são seus sonhos com a banda?

Levar a banda de pifanos Esquenta Muié de volta à mídia, dando continuidade o trabalho e o legado  que meu saudoso pai deixou com tanto amor, cumprindo assim o pedido que me fez para manter a banda viva.

- Qual a sua idade e desde quando toda o pífano? 

Tenho 43 anos, aprendi a toca pífano com meu pai  aos 10 anos de idade meu pai já mim ensinava.

Infelizmente, no fim de setembro passado, o músico José Edmilson, que tocava caixa, faleceu de causas naturais.


Matéria publicada originalmente no Guia Ensaio nº 07 de 2022

Asfopal elege nova diretoria para os próximos 3 anos com novos desafios

 






Fundada em 27 de dezembro de 1985, pelo saudoso professor Ranilson França, a Associação dos Folguedos Populares de Alagoas, a ASFOPAL, elegeu nesta segunda (15) sua nova diretoria, após um período difícil,  passando pela pandemia e por constantes tentativas de manipulação por pessoas com objetivos esdrúxulos, mas a unidade dos mestres e amigos da ASFOPAL prevaleceu, também graças a sua presidente anterior, Ana Clara de Vasconcelos, que concluiu o mandato do Presidente Cícero Farias, que não pôde terminar o seu.




Ana Clara abriu sua residência,  acolheu os mestres e brincantes para as reuniões durante o período pandêmico e ajudou a manter a instituição de pé,  atuante e atualizada.




Na eleição desta segunda, a chapa ASFOPAL UNIDA E FORTALECIDA, encabeçada pelo produtor cultural e ex-presidente da Federação de Coros de Alagoas, Ivan Barsand, membro da associação há quase 30 anos.




A eleição foi por aclamação, já que foi chapa única,  já que uma outra que se apresentou anteriormente, não se sustentou.




Ivan Barsand será o Presidente, Mestre José Miguel da Silva Lima, mais conhecido como Militar, será o vice, e ainda tem as participações de Mestres Petrúcio Amorim, filho de Mestre Venâncio, da jornalista Gal Monteiro, do também jornalista e produtor cultural Keyler Simões, mestres João Venâncio, José Flávio dos Santos, Maria Salete Bonfim, Jackson Ferreira dos Santos, Elisângela Vieira Moraes, Zenilda Belo Feitosa, Waldemir Pedro da Silva e Sebastiana do Nascimento, compõem a futura diretoria que assumirá em solenidade marcada para às 19h, do dia 22 de agosto, no anexo do Teatro Deodoro, em evento aberto à comunidade.

Em discurso após a eleição, o presidente eleito Ivan Barsand destacou: "Somos uma instituição séria, criada por Ranilson França para ajudar os grupos e mestres de nosso folclore e cultura popular e vamos nos manter unidos e atuantes, e sobretudo vigilantes", finalizou.

A nova diretoria tem como desafios iniciais a coordenação do projeto Folguedos na Rede Escolar, em parceria com a Fundação Municipal de Ação Cultural, além de reestabelecer outras parcerias,  que devido ao período da pandemia ficaram em suspenso, como com a Secretaria de Estado da Cultura,  Museu Théo Brandão, a própria FMAC, além de novas com instituições representativas de outros folguedos e danças como Liga do Boi, Liga das Quadrilhas, Liga dos Cocos, Asforral (Forró), dentre tantas outras.




O Produtor e Gestor Cultural Vinicius Palmeira definiu assim a ASFOPAL: "A ASFOPAL é um patrimônio de todos nós, de Alagoas, e deve ser preservada como uma proteção à nossa história e nossa cultura. Muitos mestres já se foram, como Mestra Virgínia,  Mestra Hilda, Dona Maria do Carmo, Verdelinho,  Venâncio, Isaldino, do Fandango... e muitos outros ainda partirão,  e por isso temos que preservar a Asfopal para que novos mestres surjam e a cultura popular seja preservada e exaltada", concluiu Palmeira, amigo da instituição desde o final dos anos 90.

Então,  vida longa à ASFOPAL e a todos os brincantes e mestres de Alagoas!